segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A estranha aflição da sala de espera


Eurofull

Por Bruno Mourão, na Tribuna de Minas


Entra. Se senta. Olha a hora no celular. Põe o aparelho no silencioso. Suspira.
Chego depois, me sento, sei que estou adiantado e, por isso, não toco a campainha do psicólogo. Ali estou para ver se faço minha última sessão, me sinto tão bem ultimamente! Mas a moça, do meu lado sentada, definitivamente não.
O sofá é pequeno: dois lugares para pessoas bem magras, o que não é meu caso, então acabo esbarrando na moça e nos ajeitamos para que isso não se repita - aflição mais da parte dela do que da minha, confesso.
Ela: Respiração ofegante. Levanta-se, toca campainha uma, duas, três vezes. A porta do analista não se abre. Abro meu livro e começo a leitura, mas não mantenho o sossego com o desassossego da paciente que divide comigo a sala de espera.
Novamente: abre o celular; vê as horas; respira, respira, respira; folheia sem ler as revistas antigas ali dispostas e badala mais uma vez a campainha. Penso: "Será que essa tensão toda incomoda mais a mim aqui fora ou a quem está (tentando) fazer análise lá dentro? O que será que aflige tanto esta mulher?" Mantenho a discrição, fico na minha e tento me concentrar nas páginas do livro que chega à de número 35 sem que eu tenha compreendido uma linha sequer!
Enquanto a vejo caminhar de um lado para o outro da sala, me pego com minha mente: "Será que terei de esperar ela abafar sua agonia para eu ser atendido? Meu Deus! Ficarei horas por aqui".
E ela entra. Estou marcado paras as 16h30. É a vez de minha saga começar. O cuco não corre para mim como parecia não correr para a cliente anterior. São 16h25. Toco a campainha algumas vezes e tudo continua parado. Sinto calor e fico inquieto. "Como está demorando! Aquela desassossegada não vai levantar a bunda de lá nunca mais?". E o relógio não corre nem mesmo se eu adiantar a hora dele! Sai! Sai! Sai!
Largo o livro na página 57. São 16h29. Fico com mais calor e tiro a jaqueta. A saleta parece encolher e me sufocar - quase uma Alice no país das maravilhas. Me abano com as revistas velhas que parecem ter esta única serventia. Sai já daí, meu Deus! Para quê falar tanto?
A porta range e lentamente - pelo menos para mim os segundos já não têm a mesma duração, assim como os minutos, horas etc. - e ela, finalmente, deixa o consultório. Eu com a camisa molhada de suor, esbaforido, tenso, com o pescoço enrijecido, corro para o divã cheio de estresse e curioso para saber o que deixava a moça da sessão anterior à minha tão nervosa. Sabendo que o terapeuta não responderia e que eu não faria tal pergunta, tratei de tentar me relaxar e conversar.
E assim, mais uma consulta se garantiu, aliás, duas: a daquele dia e a da próxima semana, pois se cheguei certo de que aquela seria minha última sessão, saí de lá convicto de que era necessário retornar mais uma vez. Seria uma estratégia? Ou estarei eu buscando teorias da conspiração em tudo quanto é lugar? Está aí uma questão para se tratar na próxima análise.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caraca!!! Consultório de psicanalista pode ser pior dque de médico?!