segunda-feira, 3 de setembro de 2007


Guy Debord vem sendo reconhecido como um dos mais importantes pensadores do século que passou. Curiosamente, tal fato se deu somente após sua morte, em 30 de novembro de 1994 - a televisão francesa, então, exibiu um documentário sobre sua vida e obra, seguido da primeira exibição em TV de seu filme-documentário A sociedade do espetáculo, que também é título de seu livro mais famoso e exaustivamente citado como uma das mais apropriadas leituras do midiático mundo contemporâneo.

Debord foi o fundador da Internacional Situacionista (1958-1972), movimento politizado que nunca buscou a hegemonia como projeto político, mas antes o contrário, através da contestação do sistema capitalista e dos projetos revolucionários de seu tempo anunciando-lhes a derrota antecipada, já que sua força-motora era a outra metade da cara do projeto capitalista - era notória, por exemplo, sua crítica ao comunismo institucionalizado dos PCs - ou seja, a contestação crítica era sua marca pois punha-se contra a sociedade burguesa assim como aos que encenavam oposição a ele. Debord definia-se como um "doutor em nada" (veja-se seu livro Panegírico) e pensador radical. Foi um ativo integrante da geração herdeira do dadaísmo e do surrealismo, movimentos estéticos caracteristicamente críticos da sociedade capitalista. A história de Debord, se não bastasse isso, está indissociavelmente ligada às revoltas de Maio de 68 e sua vida remete diretamente a ações politizadas de transgressão dessa sociedade e de contestação de ideologias, sendo notório em sua vida um sentimento de insatisfação com o estado de coisas existentes e um esforço sempre marcante para fazer pensar, desmontando ideologias, para além de todas as crenças obstinadas que levavam à cegueira mais que à transformação social.

Maio de 68 foi marcante pelo desejo de tudo transformar em objeto de crítica, desde a vida cotidiana até as imposições sociais e econômicas que subjugam os indivíduos e os levam a sacrificar a vida ao trabalho sem sentido ou a sucumbir pela ausência dele. Aquele sentimento de revolta, mas sobretudo de reflexão, esvaiu-se praticamente no mundo contemporâneo quando assistimos apenas a partidos de esquerda amansados pelo sistema capitalista, sindicatos comodamente integrados a sistema, operários amansados, formas de representação política que não respondem mais aos anseios dos cidadãos, revoltas espasmódicas e aleatórias por hordas desorganizadas, crime organizado, miséria...
Por isso, inspirados em Debord, convidamos para a reflexão: o que você tem a dizer sobre Debord? Ou onde e como a insatisfação e uma práxis contestatória e reflexiva existe hoje? Que poesia? Que filosofia? Que política?

Ademir Demarchi - BABEL - Revista de poesia
Marcelo Chagas - Revista Critério

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