segunda-feira, 18 de julho de 2011

Cultura e Juventude

Redação Carta Capital
14 de julho de 2011 às 10:05h
Por Helder Quiroga*
Nunca a população jovem foi tão expressiva no Brasil como nos dias atuais. Em atenção a esse fato, surgiu a parceria entre a Carta Capital e o Contato – Centro de Referência da Juventude (ONG Contato), e, como fruto dessa parceria, um novo espaço, dedicado ao debate sobre as promissoras articulações entre juventude e cultura na contemporaneidade.


Jovem deixa sua manifestação durante o Fórum Social Mundial em 2010. Foto: Renato Araújo/ABr

Trata-se de um tema estratégico para o Brasil. Segundo a antropóloga Regina Novaes, especialista no tema, estudar a juventude é conhecer a sociedade e poder pensar, inclusive, em seus rumos. Dados do Censo de 2000 apontam que a juventude já compreende um quarto da população brasileira, representando 50.241.785 de pessoas entre 18 a 34 anos (faixa etária utilizada em países como Espanha e Cuba).

A juventude foi considerada, durante muitos anos, um segmento social de segunda ordem no Brasil e no mundo. Após os anos 40 e 50, movida por grandes transformações, conquistou pela primeira vez o direito de ser jovem, redefinindo estilos de vida, formas de atuação política, e passando a defender ideais como amor livre, autonomia social, independência econômica e revolução cultural.

Nas décadas que se seguiram, o termo juventude ganhou ainda mais força, mais expressividade e diretamente relacionado a diversidade cultural, por suas formas de pensar, pelas diferentes linguagens, por novas formas de atuação político-social, e por novos comportamentos.

Segundo a pesquisa “Sonho Brasileiro”, realizada pelo Instituto Box 1824 com 2.900 jovens, essa nova geração já busca se afirmar no mundo a partir de práticas solidárias para transformar a realidade. Dos jovens entrevistados, 77% acreditam que seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade onde vivem.

Basta ver que elementos apontados como fortes campos de atuação solidária da juventude estão na área da Cultura (31%), Meio Ambiente (29%), Educação (26%) e Esporte (25%). Ou seja, se considerarmos a Cultura e o Meio Ambiente como áreas afins e interligadas diretamente, teremos 60% dos jovens brasileiros com desejo em atuar nos campos da Cultura e Meio Ambiente como forma de transformar a realidade social e econômica do país.

Sabemos que a cultura é um instrumento fundamental para a transformação social dos jovens. Percebe-se que através da arte e do desenvolvimento profissional de jovens empreendedores no campo da cultura, é possível não somente diminuir a violência nas favelas e em outras áreas de vulnerabilidade social, como também suprir carências no que tange aos direitos de todo cidadão.

Organizações não-governamentais têm se dedicado a construir plataformas de intervenção social com a cultura não somente nas periferias, mas também junto a jovens de classe média, já que, muitas vezes, ambos sofrem com problemas parecidos quando se trata da falta de estímulo, perspectiva e referências políticas e ideológicas.

De um lado está o jovem de periferia que, mesmo não suprindo, muitas vezes, necessidades básicas, goza de enorme criatividade, já que ser criativo torna-se necessário para a sua sobrevivência no contexto social em que vive. De outro, o jovem de classe média, que dispõe de todos os instrumentos e ferramentas para se formar profissionalmente, mas a quem falta estímulo, desafios e responsabilidade social.

Some-se a isso as diversas transformações pelas quais o mundo vem passando, como por exemplo o avanço das novas tecnologias, as novas formas de apreensão de conhecimento através de redes sociais e de movimentos político-culturais. Novas concepções territoriais vem sendo criadas a partir da aproximação entre culturas, proporcionada pelos avanços no campo da comunicação através da internet, do aprimoramento da telefonia móvel e, principalmente, da necessidade de diálogo entre os povos.

Nesse contexto, a juventude é um elemento fundamental para potencializar novos processos de transformação social, não somente através da mobilização da sociedade, mas também por meio de políticas públicas que compreendam o conceito de uma cidadania global.

O termo Cidadania Global envolve a revisão de valores e princípios, tais como: a convivência entre os povos, a importância dos Direitos Humanos, a valorização da autonomia, da diversidade, do respeito ao indivíduo dentro da coletividade e da consciência de coletividade no indivíduo.

Envolve, ainda, a valorização do meio ambiente como fonte de desenvolvimento econômico, social e cultural; da sustentabilidade como princípio educacional; das relações entre o homem e a natureza; bem como o resgate e a preservação das culturas tradicionais.

Sendo assim, conversar, conviver, e entender a juventude, é um desafio que deve ser encarado como uma prática social cotidiana para a construção de um mundo mais justo, solidário e colaborativo. É o que se pretende iniciar com esta coluna num diálogo constante com a juventude.

*Helder Quiroga é coordenador da ONG Contato – Centro de Referência da Juventude.

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