domingo, 14 de novembro de 2010

wenders e mundim

As asas de Wim Wenders

O alemão Wim Wenders é um exemplo de resistência. Sua reputação continua em alta conta, apesar de tentar sistematicamente se auto-sabotar com filmes fracos já faz uns 20 anos.

Não há nenhum segredo. Ninguém consegue esquecer a excelência do seu período de projeção no exterior, evolução e ápice (entre 1972 e 1987). Depois de “Asas do Desejo”, poderia simplesmente ter se aposentado e, ainda assim, continuar figurando entre os grandes do cinema.

Fato é que após “Alice nas Cidades”, “Paris, Texas” e o próprio “Asas”, Wenders parecia já ter dito tudo que realmente queria dizer. O que veio depois, com uma ou outra exceção, foi repetição e diluição de seus temas e, em casos extremos, tristes caricaturas.

É como se Wenders já tivesse cumprido a sua missão. Como se Wenders estivesse insistindo no cinema, apesar de ainda estar ativo como artista. Como um artista em busca de um novo meio de expressão.

Apenas com a exposição “Lugares, Estranhos e Quietos”, em cartaz no Masp, é que me dei conta da verdadeira vocação de Wenders.

Wim Wenders é um viajante profissional.

E cinema é apenas uma das formas que encontrou para exercer a sua “profissão”. Um meio que lhe permite mostrar imagens e histórias coletadas pelo mundo afora.

Ele diz no folder da exposição: “Se eu tivesse nascido há 150 anos teria sido um viajante que registraria suas impressões em aquarelas”.

Ainda que a beleza das fotos que registram paisagens de lugares como Armênia, Israel, Austrália, Alemanha e Brasil seja inegável, é de se perguntar se um museu do porte do Masp abriria suas portas para alguém sem o currículo de Wenders.

Mas, em algumas obras, a mágica se faz. Como nas imagens de uma roda gigante abandonada na Armênia. Nelas, o Wenders dos bons tempos se manifesta. Paisagem desolada, perdida no meio do nada, nos lembrando de como esse mundo é gigantesco e de como é fácil ser solitário nele.

Na hora me lembrei de uma grande amiga, também apaixonada por lugares, como Wenders. No projeto Pocket Films for Travelers, Juliana Mundim utiliza mídias diversas para mostrar sua visão poética sobre diferentes cantos do mundo. São filmes curtos, textos, fotos, músicas.

Para Wenders ou para a Juliana, a vida é um grande road movie, em que personagens inesperados entram e saem a toda hora do roteiro, em que a mise-en-scène enfatiza o movimento e a contemplação. É uma experiência quase mística. Cada lugar tem sua energia própria, e é necessário um desprendimento nada fácil para deixar de lado conceitos culturais pré-estabelecidos e se deixar possuir .

por Bruno Yutaka Saito, daqui!

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro =)


Igor