sexta-feira, 2 de maio de 2008

Pocket films for travelers, no blog de Bruno Yutaka

Foto de Juliana Mundim


Tentar explicar por que viajar é algo tão necessário às nossas vidas é que nem tentar explicar o que é o azul. Ou tentar explicar por que é gostoso comer aquele doce. Ou por que é tão bom beijar aquela pessoa especial. Você encontra mil respostas racionais, mas essas serão apenas representações incompletas de experiências tão particulares.

Mas eu viajo pouco. Não sou um traveler como a Juliana. Tá, ela é uma amigona, e vale lembrar que best friend a gente só tem um, mas isso não invalida a minha dica.

Ela tem um projeto absurdo, que você TEM que conhecer, caso você realmente goste de viajar. Vai lá: http://www.pocketfilmsfortravelers.com . E quando digo viajar, não estou me referindo a você, que gosta de ir ao país estrangeiro para correr às lojas de bugigangas, ou que saca desesperadamente sua máquina em pontos turísticos, e se esquece de apreciar a paisagem. Se você for, nada contra também. Faz parte.

Mas estou falando de outro tipo de traveler, aquele que encara a viagem como uma busca pela identidade. Uma busca existencial. Eu tinha um amigo que sempre citava aquela frase, “A verdadeira viagem necessita de novos olhos, e não de novas paisagens”. Eu prefiro pensar de outra maneira: “A verdadeira viagem necessita de novos olhos, em novas paisagens”.

Acho que é isso que me fascina tanto e ao mesmo tempo me assusta nas viagens. E é isso que eu vejo a Ju captando tão bem no Pocket Films. Perca um bom tempo navegando lá. Tire um dia, uma tarde, uma noite, para fuçar cada cantinho do site. A Ju é uma traveler que já rodou o mundo várias vezes. É o projeto de uma vida. Em cada país que ela vai, ela coleta imagens, que aparecem em forma de fotos e vídeos no site. O Pocket Films é como se fosse um longo filme. E cada pedacinho do site faz parte dessa trama.

Mas, mais do que isso, ela vai captando estados de espírito. Ela vai deixando por ali músicas, desenhos e textos de uma poesia que consegue expressar aquela melancolia gostosa que sentimos quando viajamos. Você fica feliz de ver tanta coisa nova e bonita, e fica triste porque queria fazer parte de tudo aquilo, mas você não faz parte, e você vê como o mundão é tão grande, e você começa a lembrar de todos os seus pequenos problemas que ficaram lá para trás, mas não tanto para trás, porque um dia você tem que voltar.

Tudo é subjetivo na viagem. Se um alienígena me perguntasse o que é viajar, eu diria para ele escutar “Feeling Good”, da Nina Simone (lá em cima tem a música se você quiser ouvir).

O Pocket Films é meio isso. Ele dá essa sensação de arrebatamento, algo voraz. Quando você viaja, você deixa de ser um pouco você mesmo. Dá um alívio enorme às vezes, mas dá um pânico também. Viajar te coloca em perspectiva: você vê o quanto você é pequeno, ao mesmo tempo que reforça a sua individualidade e seu poder interior.

Te faz ver o quanto o que você acredita, o que você é, o que você pensa, é apenas uma opção possível. Te faz sentir criança de novo, já que quando você está num país estrangeiro, tudo é novo para você. Você consegue ver as coisas com novos olhos. Pânico e prazer de novo: não é fantástico chegar num país onde você não consegue entender um “a” do que estão falando, e onde você não consegue entender o que está escrito nas placas de trânsito? É um exercício enorme de humildade, e acho que todos precisam ser humildes no mínimo de vez em quando, se tornar um completo analfabeto em terras estrangeiras.

Você se sente criança de novo, e é como quando transamos com alguém querido, e nos entregamos sem vergonhas à brincadeiras particulares.

Não sei dizer se você volta mais sábio de uma viagem. Sim, temos sempre que voltar, sempre saímos de um ponto para outro. Senão, dizem, perdemos as referências, piramos um pouco, quando não temos raízes. No fundo é medo de você não ser mais você mesmo, e você perder uma das poucas certezas na vida: quem sou eu?

Eu tenho alguns favoritos no Pocket Films. Vai lá no Japão. Tem o vídeo Carol and the Dancing Scketch Book. Esse representa bem essa coisa que eu falei de se sentir criança, da beleza dessa idéia de pureza e sentidos virgens. Tem o Handome Man on a Windy Day: nesse, pra mim, vem essa sensação de melancolia bonita. Suportável portanto, mas que não deixa de apertar o peito.

Lá na seção Nova York, ouça os Podcasts com as músicas que a Ju selecionou. Tem o I Really wish we could hang out more (adoro esse nome!), e se a ficha não caiu, experimente ir um dia a Nova York e fazer um clássico na cidade: sair andando sozinho pelas ruas, com o iPod no ouvido. E sem medo de ser assaltado. Depois de andar por Manhattan de ponta a ponta, vá ao Brooklyn e passe o dia lá. Não tem turistas por ali. Como a Ju mesma diz, imagine se um bairro inteiro fosse como a Torre de quinta (isso no tempo em que a Torre de quinta era um pouquinho menos decadente, claro).

Ah, não deixe de passar pelo Cambódia. Lá você vai descobrir que os dinossauros sumiram da face da Terra não por causa de um meteorito que veio parar por aqui, mas sim porque eles estavam deprimidos, se sentindo muito solitários.

Depois me diz o que você achou do Pocket Films. I really wish we could hang out more.
* Bruno Yutaka é amigo de Juliana Mundim

Um comentário:

Anônimo disse...

ÓTIMO!!