segunda-feira, 19 de maio de 2008

Hollywood ou Bollywood não são os únicos grandes reinos do cinema. Para completar o mapa é preciso incluir a Nigéria e sua singular produção da sétima arte: Nollywood, a terceira produtora de filmes do mercado mundial, atrás de seus concorrentes americanos e indianos. No ano passado, segundo Bond Emeruwa, presidente da Associação de Diretores de Cinema Nigerianos, houve uma boa colheita, superior a 2 mil títulos.

Em Nollywood não há tapetes vermelhos nem multidões nas estréias: os filmes são feitos com câmera digital na mão, vendidos nos mercados e consumidos em casa em formato de DVD ou VCD. Os primeiros custam de 4 a 5 euros e os outros, às vezes com péssima qualidade de imagem, a 1 euro. A pirataria, logicamente, causa estragos em um ambiente tão doméstico.

"Fazemos longas-metragens que em sua maioria não estréiam nos cinemas porque nos concentramos no vídeo digital. A distribuição em salas é muito reduzida porque praticamente não existem, mas alguns filmes são exibidos em teatros", explica o diretor e ator Fred Amata. "Na realidade os filmes de Nollywood são vistos no mundo todo, porque nosso cinema é uma ponte de união entre os nigerianos que vivemos em nosso país e os que foram para o estrangeiro", acrescenta o cineasta, que está de passagem por Barcelona convidado com outros colegas pela empresa Chocolat Factory, muito envolvida na promoção da cultura africana.

Quando começou esse movimento? Quando chegaram às mãos dos comerciantes os primeiros reprodutores de vídeo digital, no início dos anos 90. Como tinham muito pouca saída, começaram a vendê-los acompanhados de filmes americanos e indianos, que quase não interessavam aos espectadores. Naquele momento, a violência nas ruas nigerianas as tornava intransitáveis à noite. Apesar da gravidade da situação, o contexto era ideal para promover entretenimentos caseiros.

Em 1992 ocorreu o milagre, com um grande sucesso do diretor Chris Obi Rapu, "Living in Bondage" [Vivendo no cativeiro], a história de um homem que fica preso em uma seita ocultista. "Na realidade, a indústria de cinema nigeriana é muito antiga e já se faziam filmes nos anos 50. Mas a indústria moderna, baseada no formato digital, é recente e começou a despontar há 17 ou 18 anos. Atualmente dá trabalho direta ou indiretamente para 2 milhões de pessoas", diz Emeruwa.

O custo desses filmes varia em média entre 16 mil e 20 mil euros, mas os diretores salientam que para fazer um bom filme são necessários no mínimo 50 mil. A partir de "Living in Bondage" tudo ficou mais fácil, apesar de as filmagens toparem muitas vezes com as práticas extorsionários das máfias locais. A corrupção é exatamente um dos temas recorrentes nos filmes de Nollywood, que tem suas predileções em questão de gêneros. "O que mais passamos é drama, tanto o romântico como aquele que envolve histórias familiares", diz Bond Emeruwa. "Alguns filmes mais épicos falam do passado, enquanto a maioria se concentra em problemas contemporâneos."
via UOL Cinema

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