O encontro entre a rua e o ciberespaço
A Internet invade a rua e a rua, com as tecnologias de mapeamento e de GPS, vai para a Web. Um grupo de último anistas do curso de Multimeios da PUC se reune para um debate sobre a rua e a infovia e discute os cruzamentos e as encruzilhadas dessas duas estradas. As fronteiras entre o mundo físico e a virtualidade estão se tornando cada vez mais difíceis de se distinguir. As tecnologias móveis, como celular, GPS, a Web 2.0, a possibilidade de publicar a distância e transmitir ao vivo on-line estão encurtando a distância entre esses dois mundos. Como todo bom papo, dá vontade de continuar. Thiago: A primeira coisa que enxergamos, antes de pensar em qualquer tipo de intervenção ou arte, é encarar a cidade como suporte, como mídia, como um espaço que está livre para qualquer criação, qualquer intervenção... A cidade é uma mídia? Há a questão do ativismo também... Malu: Chama-se Loca, de locative media. Com os aparatos móveis, a tecnologia não tira mais você da vida. Continua-se inserido na realidade. Estar dentro de um computador não é mais estar fora do mundo. Muito menos fora da cidade. Essas interações revelam isso? Henrique: Acho que o espaço da cidade virou meio que um espaço de transmissão de conhecimento, de informação... Malu: Isso se dá mais pelo celular... Mas sem ele, você se desconecta. Henrique: Nem sempre... Não só... Você está andando pela rua e vê um outdoor... Malu: Não pode mais! (risos) Henrique: Você está conectado, pois estão usando a cidade como suporte de mídia. Chega ao trabalho, entra no elevador e a primeira coisa que está lá é a cotação do dólar. Isso acontece em vários lugares. Até na padaria! O on-line está invadindo todos os espaços públicos e privados. A mídia de elevador é uma expressão disso, os letreiros eletrônicos pela cidade... Isadora: No metrô! A geração de vocês navega mais na Internet do que vê TV. Malu: Muito mais. Quem está acostumado com essa interação não quer mais ficar passivo. Quer interagir, procurar o que quer. Não tem mais paciência... Thiago: Eu assisto TV enquanto navego no computador. Este é outro fenômeno interessante dessa geração de vocês. A simultaneidade de mídias. Fazem várias coisas ao mesmo tempo. Malu: Vendo TV, escutando iPod e navegando no computador Conrado: Vivemos um modelo de mídia em que todo mundo interfere. Antigamente não existia. Os mais velhos nasceram num contexto em que não havia essa possibilidade. É o fenômeno da Web 2.0. Hoje está todo mundo produzindo. Há grupos de trocas de informações em que as pessoas são todas agentes, não mais receptoras. Isso está se tornando uma prática em larga escala. Agora todo mundo faz um vídeo, uma foto e gera informação, como nos blogs. O GPS será definitivamente uma das tecnologias do futuro, não é? Carolina: Eu vi no catálogo na Sony. Tem um dispositivo, que parece um chaveiro, você o conecta na sua máquina fotográfica e ele reconhece o local onde você está e inclui a informação na foto. Vocês falaram da tendência transmitir ao vivo ações, criadas por artistas e realizadas no espaço urbano. São formas de presenciar. É como se o espaço urbano se ampliasse com a Web? Malu: Você pode estar caminhando e baixar ou fazer um vídeo ou fazer e enviar para alguém. Conrado: Muitos celulares já têm ferramentas na própria interface para publicar diretamente na Web. Isso facilita. A idéia principal são os serviços... Conrado: Sim, há projetos já de GPS que, quando você entra num estacionamento, o dispositivo guia você para a vaga. Não precisa ficar procurando. Thiago: Quando o Led Zeppelin voltou pouco tempo atrás, tinha no Google Maps, um mapeamento da biografia deles. Todos os lugares por onde eles passaram, os mais importantes etc. César: Agora há lugares onde você passa que detectam seu celular e um dispositivo se comunica com você.
Mediação Ricardo Peruchi
para Revista Offline
Malu: Sempre foi, na verdade desde a Ágora (praça na Grécia Antiga). A cidade sempre foi um espaço pra isso.
Conrado: Sim, tem um coletivo, por exemplo, que protesta contra a perda de privacidade. Eles fizeram uma ação muito interessante para mostrar essa questão política. Colocaram uns aparelhos em alguns postes e hackeavam os celulares. Enviavam mensagens para as pessoas via bluetooth, como se fosse um olho onipresente, dizendo “você passou por rua tal, hora tal, minuto tal”. As pessoas ficavam apavoradas. É um alerta. É um projeto bem interessante.
Malu: Tem TV no ônibus também.
Conrado: Até mídia de banheiro.
Henrique: Estão chamando isso de non-media.
Henrique: Tem a história do repórter cidadão... Alguns grandes jornais aceitam e pagam por fotos, por exemplo.
Conrado: A tendência agora é agregar informações a mapas, como dicas. O Flick tem isso. Você coloca as fotos no mapa, além das tags nas fotos. Há um projeto da Nokia que utiliza GPS para rastrear o trajeto que as pessoas fazem na cidade, brincando com a possibilidade de formar desenhos, vistos de cima. Tem gente que vai desenhando com seu percurso um rosto, por exemplo.
Conrado: No Carrefour do Eldorado, via bluetooth, quando você entra, recebe uma mensagem.
É uma nova forma de spam. Vai precisar, no futuro, de pedir autorização. Cadastrar quem você quer receber. O celular daqui a pouco vai reconhecer íris, o polegar, fazer exame de diabete...
Carol: Abrir cerveja!(risos)
Conrado: Tem uma outra coisa bem bacana. Alguns celulares de terceira geração estão saindo com leitores de códigos de barras. Há adesivos em pontos da cidade que podem ser lidos por eles e que, na verdade, são links para a Wikipedia, que podem ser navegados nos próprios aparelhos com informações sobre o local etc. É como se você estivesse botando tags na cidade.
E o papo continua...
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