segunda-feira, 10 de março de 2008

Sombras (1959), John Cassavetes

Tal pai, tal filho

por Maria Leite Chiaretti

O primogênito de Cassavetes faz jus ao status de pai do cinema independente americano. Um filme que se propõe a abordar questões inter raciais na Big Apple, em pleno anos 50, já poderia ser considerado por alguns como uma ruptura, mas esta não seria uma obra de John, talvez de um contemporâneo como Preminger ou Welles. O diretor não só escolhe um assunto `polêmico` para sua estréia como realiza um filme com atores não profissionais baseado na improvisação (concepção originária no neo-realismo italiano), que é marcada por situações vividas pelas personagens, seja em um passeio pelo Central Park, seja no desconforto e na atitude racista quando a personagem Tony descobre que os irmãos de Lelia são negros, captado por uma câmera que transita com liberdade nos reportando àquele mundo confuso da juventude nova iorquina.

Pode-se interpretar que o filme representa tecnicamente a contra-industria hollywoodiana, justamente por se opor aos cânones por esta instituídos. Como dito anteriormente, Cassavetes opta por direcionar se na conta mão ao trabalhar com não atores, improvisar – recurso reforçado pela trilha sonora, um jazz espirituoso e atuante – utilizar uma fotografia escura, além de realizar travellings originais. Esta opção faz com que a surpresa, o inesperado e o experimental apresentem ao espectador uma nova maneira do fazer cinema.

O título – Sombras – é alusivo ao próprio estilo criado pelo diretor, que pretende favorecer a manifestação de sentimentos genuínos, do cotidiano, da `vida como ela é`. As sombras do amor, das relações desiguais, do convívio social e, de certa forma, das próprias imagens fazem deste primeiro filme de John Cassavetes uma obra que assume um compromisso com uma realidade que desabrocha ao menor movimento daqueles com quem nos identificamos na tela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que belo texto!
Parabéns! Você já pensou em escrever profissionalmente?
Gusmão Andrade