terça-feira, 18 de março de 2008

Entrevista: Juliana Mundim

FOLHA - Como surgiu a idéia para o Pocket Films for Travelers?

JULIANA MUNDIM - Eu tive a ideia de fazer o Pocket Films quando eu morava em Nova York. Primeiro fiz uma série chamada "Films to Go", que eram filmes pequenos pra levar pra viagem. Eu tinha pensado num device, um aparelho imaginário em que a gente comprasse os filmes na banca e colocasse dentro deste aparelho _o que, anos depois, virou o celular de hoje, né? Você pode ver o vídeo desta idéia na sessão Vlog; o filme "When I First Had This Idea".

Nessa época comecei a fazer filmes portáteis, pequenos mesmo... Até por questões de disco rígido. Eu tinha que usar pouca memória, pois não tinha o equipamento necessário, então fazia filminhos de tamanho 320x240, de poucos minutos de duração e que só poderiam mesmo ser vistos na internet, e olhe lah, pois era 1999.

No fim de 1999, a idéia foi evoluindo pra "Filmes de Bolso Para Viajantes", que era a de mostrar sempre estrangeiros. Um africano em Nova York, um americano no Brasil, um norueguês na Austrália, um pássaro em migração... Turistas, refugiados etc. Aos poucos o conceito foi se trasnformando e hoje em dia ele mostra mais o olhar estrangeiro, que é o meu próprio.

A idéia sempre foi a de fazer um filme, mas eu acho o mundo muito cheio de coisas diferentes! Ele está em
formação constante! São muitas texturas, cheiros, pessoas, formatos, e achei que um filme estático como
a gente é acostumado não seria o caso pra este projeto. Por isso resolvi fazer um filme diluído e desconstruído, como o mundo é _acontecendo todo ao mesmo tempo ali on-line, pois a internet é um espaco vivo e ativo, tão orgânico quanto a Terra. A web se assemelha mais com o mundo do que uma sala de cinema. As pessoas que navegam no site fazem seu próprio caminho, constroem seu filme em seus próprios tempos. A conexão com o público é mais facil on-line. Uso textos, fotos, música, desenhos e vídeo pras pessoas juntarem as partes de um todo e chegarem às
suas proprias conclusões. Portanto falar do mundo em andamento dentro da internet fazia mais sentido pra mim.

FOLHA - Por que lugares você já passou?

JULIANA - Ah... Muitos! Ásia, Oceania, África, Europa, Américas... Mas ainda falta muito! O mundo não é tão pequeno quanto a gente pensa que ele se tornou. Mas pra citar alguns paises: Nepal, Índia, Laos, Tailândia, Vietnã, Camboja, China, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Estônia, Finlândia, Marrocos, México, Chile, Argentina etc.

FOLHA - Quais foram as maiores aventuras pelas quais você passou nessas viagens ao redor do mundo?

JULIANA - Acho que toda a viagem eh uma aventura, nao é? Ficar um ano longe de casa só viajando é uma
aventura e tanto, e quando a gente volta as coisas nunca mais são as mesmas.. Mas acho que talvez a Índia e o Nepal tenham sido os lugares mais extraordinários de todos. No interior da Índia as pessoas são realmente
amigáveis, e a cultura, totalmente diferente do Ocidente.

Acho também que a aventura está nos pequenos momentos que a gente tem com o lugar, que só a gente sente
dentro da cabeça. Coisas muito simples mesmo, como ficar observando uns meninos esperando o ônibus passar em Bangkok, quando só um faixo de luz batia neles; ou, na Índia, entrar em uma roda gigante movida à força humana, onde eles ficavam pendurados nas alturas fazendo força pra roda mexer, vários deles!; ou andar pela rua ouvindo uma música incrível e cantando alto no interior da Nova Zelândia só porque a gente está feliz por estar ali, andando em um lugar totalmente novo... Essas coisas, pra mim, são aventuras maiores do que, por exemplo, alguns perrengues _como ter homens mulçumanos num hotel que fiquei em Cingapura tentando entrar no meu quarto a noite toda, e o mesmo quarto estar enfestado por baratas. Ou o ônibus andando a 120 km/h nas montanhas do Nepal, perto de um despenhadeiro onde se viam outros ônibus que ali já tinham caido...

FOLHA - E as maiores dificuldades?

JULIANA - Acho que dificuldade está muito na cabeça da gente. Quando se gosta muito de viajar, a gente tende a
"perdoar" qualquer empecilho e se concentrar nas partes boas. Tanto que no fim a gente nem se lembra tanto do que aconteceu de ruim. Acho que a maior dificuldade está nos paises que não falam nada de inglês, como a China. A gente quer se comunicar com as pessoas locais, quer conhecê-las, mas pode ser muito frustrante.

Eu tambem queria ter ido para o Oriente Médio, mas só cheguei mesmo na borda do Paquistão pelo deserto do
Rajastão, a camelo! Talvez se eu fosse homem seria mais fácil viajar para lugares famosos por ser um pouco mais perigosos, né?

FOLHA - Que suportes você usa para fazer os filmes? Vale câmera do celular, por exemplo?

JULIANA - Uso uma câmera Mini DV semi-profissional. É uma câmera pesada e grande, não muito prática pra viajar,
mas foi uma escolha minha, de querer uma certa qualidade para as imagens. Porém, hoje em dia alguns celulares têm cameras ótimas e é muito possível criar coisas incriveis com elas!

FOLHA - Quantos acesso o site já teve?

JULIANA - Não sei ao certo porque mudei de contador algumas vezes. Mas imagino que deve ser perto de cem mil.

FOLHA - Existem planos para transformar o Pocket em livro e filme para internet?

JULIANA - Sim, já comecei a editar fotos, desenhos e textos para um futuro livro. Quanto aos filmes, a intenção é
editá-los em um longa.

FOLHA - Como é sua relação com a internet e com os meios digitais, em geral?

JULIANA - Eu acho importantíssimo pra tudo isso que eu faço! Aliás, é primordial. Desde a captação (vídeo, foto, scanear desenhos) até para comprar passagens e mostrar o resultado do trabalho. Eu prefiro mostrar meus trabalhos on-line primeiro, porque é um meio muito mais democrático e ágil para quem faz a arte, o filme, a foto. O contato com o publico é direto e de perto. É bastante gratificante!

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