drummond
política
a mário casassanta
vivia jogado em casa.
os amigos o abandonaram
quando rompeu com o chefe político.
o jornal governista ridicularizava seus versos,
os versos que ele sabia bons.
sentia-se diminuído na sua glória
enquanto crescia a dos rivais
que apoiavam a câmara em exercício.
entrou a tomar porres
violentos, diários.
e a desleixar os versos.
se já não tinha discípulos.
se só os outros poetas eram imitados.
uma ocasião em que não tinha dinheiro
para tomar o seu conhaque
saiu à tona pelas ruas escuras.
parou na ponte sobre o rio moroso,
o rio que lá embaixo pouco se importava com ele
e no entanto o chamava
para misteriosos carnavais.
e teve vontade de se atirar
(só vontade).
depois voltou para casa
livre, sem correntes
muito livre, infinitamente
livre livre livre que nem uma besta
que nem uma coisa.
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