domingo, 17 de fevereiro de 2008

The man with the movie camera

O realizador Dziga Vertov em ‘The Man with a Movie Camera’, realizado em 1929, apresenta-nos um filme ímpar com uma história ímpar. Vertov foi inicialmente entusiasta do patronato estatal tendo sido largamente beneficiado através de propaganda entusiástica. Contudo, a sua carreira no estúdio de filme estatal de Moscovo não foi isenta de preocupação e ele filmou ‘The Man with a Movie Camera’ trabalhando no estúdio estatal na Ucrânia, após ter perdido o seu emprego na capital soviética em 1927. Nos anos 30, Vertov afundou-se na obscuridade como editor de um jornal cinematográfico na então Rússia Estalinista, ironicamente, voltando ao emprego que o tinha inspirado a fazer filmes. Durante duas décadas e meia, os seus filmes desapareceram da circulação até ao degelo intelectual post-Stalin. A Europa com, as novas tendências do cinema francês dos anos 1960 recebeu os seus filmes com braços abertos e encontrou a inspiração nas suas teorias que tinham reemergido recentemente na União Soviética. Desde então ’The Man with a Movie Camera’ de Vertov tem continuado a surpreender novos públicos, fabricantes e críticos com o seu dinamismo e truques visuais.

A maior parte do filme conta as relações sociais na cidade. Em sequências rítmica e dinamicamente arranjadas ele, entrelaça a produção industrial e a sociedade. No início o filme parece observar uma ordem cronológica convencional com sequencias iniciais representando o despertar da cidade. Até certo ponto a cidade é antropomorfizada, mas Vertov trabalha também neutralmente de modo a integral os seres humanos no seu ambiente social, as pessoas despertam e então a cidade torna-se viva.
O fio condutor do filme é representado pelo cineasta epónimo que parte de casa à primeira luz do dia com uma câmara apoiada no ombro. Mas apesar da sua natureza, ao que parece, documental isto é de facto um dispositivo de conspiração, uma vez que Vertov não documenta uma determinada manhã numa determinada cidade. Isto deve-se ao facto de Vertov ter reunido as imagens em tempos diferentes e cidades também diferentes (Moscovo, Kiev e Odessa). Daqui resulta que o que fica conhecido não é a especificação de um dia único, concreto mas uma rede de actividades que traçam as funções da modernidade urbana, gente que vai trabalhar, no trabalho, que trabalha em máquinas, máquinas que transportam pessoas, a confusão a apressar-se da cidade, bem como actividades de lazer, banho de praia e desportos, tão importantes para as teorias do bem estar social dos anos 20 na União Soviética.

As diversas actividades executadas pelos habitantes e as funções atribuídas ao maquinismo e tecnologias da cidade são transportadas para fora dos seus contextos espaciais e temporais e trabalham no tecido do filme. O filme impõe a sua própria estrutura ao material. Isto serve para dividir as várias actividades em capítulos distintos (despertar, trabalho, lazer) o que de uma forma rude corresponde ao curso do tempo, da alvorada ao crepúsculo. Naturalmente esta divisão, antes de mais nada, fornece uma estrutura lógica e representa um nível da análise executada pelo filme.

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