quarta-feira, 3 de outubro de 2007

le bon sauvage (nostalgia?)

“O que será, no fundo, essa história de encontrar um reino milenário, um éden, um outro mundo? Tudo o que se escreve atualmente , e que vale a pena ler, encontra-se orientado para a nostalgia. Complexo de Arcádia, regresso ao grande útero, back to Adam, le bon sauvage etc), Paraíso perdido, perdido por buscarse, yo, sin luz para siempre... E aí surgem as ilhas (cf. Musil) ou os gurus (se houver grana para o avião Paris-Bombaim) ou, então, simplesmente segurar uma xícara de café e olhá-la por todos os lados, não já como uma xícara de café, mas como uma testemunha da imensa burrice em que todos estamos metidos, acreditar que esse objeto não passa de uma pequena xícara de café, quando o mais idiota dos jornalistas encarregados de resumir para nós sei lá o quê, mas Planck e Heisenberg, se mata, procurando explicar-nos em três colunas que tudo vibra e treme e que tudo está como um gato à espera de dar o enorme pulo de hidrogênio ou de cobalto que nos deixará a todos de patas para cima. Na verdade, trata-se de um modo muito grosseiro de explicar coisas.” (CORTÁZAR: 1982, p. 331).

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