sábado, 7 de julho de 2007

depoimento de Lokesh

Francanos falam d'O Segredo
Vanessa Maranha
Especial para o Comércio

Best-sellers ou blockbusters, isto é, campeões de vendagem ou bilheteria, sempre suscitam paixões e ódios avassaladores. Via de regra, a crítica torce o nariz para produtos culturais referendados pela massa. Paulo Coelho, o escritor brasileiro que mais vende livros no mundo está aí para confirmar o dito: nunca foi bem tratado pelos críticos literários brasileiros, muito pelo contrário. O mesmo ocorre com o filme (um documentário, na verdade) O Segredo, que vem sendo assistido por milhares de brasileiros e cujo roteiro acaba de ser lançado em livro no País, pela Ediouro. A relação entre fãs e detratores da obra tem sido inversamente proporcional em intensidade. Numericamente, no mesmo, digamos, Efeito Paulo Coelho, a despeito dos muxoxos da crítica, a acolhida pelo público é superlativa: lançado em 2006, este filme/livro está se tornando um grande fenômeno mundial.

Nos Estados Unidos, avalizado por Oprah Winfrey, o livro teve sua primeira edição de 1,75 milhão de cópias esgotada, alçou o primeiro lugar na lista de auto-ajuda do jornal The New York Times. Ainda na terra de Bush, do individualismo e da suposta meritocracia, os DVDs já bateram a impressionante marca de 1,5 milhão de unidades vendidas. No Brasil a febre está se espalhando rapidamente e já conta com pelo menos 4 comunidades no Orkut, uma delas com 12 mil membros. Mas de que trata, afinal, O Segredo? Bem, O Segredo, tanto fãs quanto opositores concordam nisso, não é segredo para ninguém. Escrito pela australiana Rhonda Byrne, o filme, agora tornado livro segue a mesma linha do documentário Quem Somos Nós? e se vale de depoimentos de filósofos, cientistas, professores e escritores para falar de um "segredo", um enigma de 4 mil anos a que poucos líderes ou gênios, como Leonardo da Vinci, Galileu, Beethoven, Victor Hugo e Einstein, tiveram acesso. O tal segredo estaria no que a autora chama de força de atração, na idéia da mentalização e de que os nossos pensamentos têm poder de atrair para nós o que desejamos e também o que não queremos, a depender de sua intensidade e de nossa atitude frente a vida. Para Rhonda, a mentalização positiva é a chave do sucesso e lhe trará o que você sonhar: em seu vídeo, colares de diamantes, mansões, riquezas nos acenam a todos, os mortais, como possibilidades palpáveis.

A jornalista Lizia Bydlowski, da revista Veja, definiu ironicamente a obra como calcada em bases teóricas fluidas e simplórias, com toques de oportunismo. Diz a matéria: "ocorre que se vive hoje um ambiente de adelgaçamento civilizatório em que um número maior de pessoas acredita em anjos do que em antibióticos. Nesse ambiente, a cura dos otimistas, dos que acreditam, dos que rezam, é quase sempre atribuída a fatores sobrenaturais, e não aos remédios e às cirurgias. É nesse desvão que prosperam os criadores de O Segredo". No rol dos adeptos da nova onda citados por Veja figura Luiza Helena Trajano, a Luizinha, conterrânea, que dirige o Grupo Luiza e declara se valer de O Segredo em sua orientação motivacional junto aos funcionários da rede. Marcelo Coelho, articulista da Folha de S.Paulo, é outro jornalista que desdenha das intenções de Rhonda Byrne. Em seu blog, caracteriza o DVD como uma "ilusão popular, picaretagem e auto-ajuda". Tales Santeiro Vilela, diretor da Faculdade de Psicologia da Unifran, não viu o filme/livro nem sabia de sua existência, mas se diz precavido contra o que quer que venha com o rótulo de auto-ajuda justamente pela simplificação e imediatismo nele implícitos. "O próprio nome 'auto-ajuda' evoca uma possibilidade de que eu possa resolver sozinho algo que me coloca em sofrimento. Isso já é, por si só, suspeito. O ser humano é social, desde a fecundação até o parto e também até a morte, já que não se concebe sem espermatozóide-óvulo, não se nasce sem equipe médica e não se vela ninguém sem auxílio de outros. Não existe uma possibilidade, nessa concepção, de que alguém possa 'auto-ajudar-se'. O que é positivo nos livros de auto-ajuda é que de algum modo provocam desejos de ler e de auto-descobrir-se. Mas eles são limitados, porque não se faz um bom leitor somente com esse tipo de literatura, bem como não se faz uma autodescoberta sem que eu de algum modo possa enfrentar a mim mesmo e aos outros com quem convivo, exatamente no terreno das relações, que é onde a vida acontece, mesmo quando estou triste com ela".

Em sua estratégia de marketing de rede, como fazem a Amway e HerbaLife, entre outras grandes corporações americanas, há a promessa sedutora de uma revelação surpreendente, reservada a alguns poucos iniciados que só agora virá a público e poderá transformar o espectador num membro desse grupo seleto. Se de um lado a mensagem tem forte apelo para quem se predispõe à crença, por outro, especialmente àqueles que a priori se indispõem em acreditar, a oferta parece realmente aversiva.

AUTO-AJUDA
Para o professor de ioga na Unesp e estudante de Direito Luiz Fernando Zen, essa jogada de marketing que comunica a revelação de um enigma milenar é uma ironia, uma provocação, em verdade, refletindo algo que todos já conhecem e até vivem, mas que não percebem. "No filme fica claro, que todos os que dão testemunhos já sabiam de tudo o que foi dito, mas a idéia fundamental é a de que as coisas estão aí, nós é que não vemos. Para mim, o poder do pensamento é fato. Há hoje provas científicas do quanto a mente é capaz, como por exemplo, durante a prática da meditação.

No plano psíquico, na prática da meditação, com a mente focalizada num único pensamento, esse poder é efetivo. Quem não acredita nisso é porque ainda não parou para percebê-lo. É como um aparelho celular. Você acredita que ele funciona porque de fato ele realiza as ligações. Mas você não vê, por exemplo, as ondas eletromagnéticas, que são as responsáveis pelo seu funcionamento, não é?", comenta Zen. A psicóloga Edvanilce Ramalho Ferreira Coelho conta que para ela o filme também não foi um achado, mas uma reiteração do modo como já percebia a realidade. "Eu já acreditava que as coisas se constroem por fenômenos energéticos. A mentalização positiva é resultante de um trabalho interno e que traz resultados igualmente positivos.

A ciência já prova, por exemplo, que alguém com pensamentos negativos está, por exemplo, muito mais propenso a doenças e dificuldades do que aqueles que mentalizam coisas boas. Fátima Caetano Costa Tavares, estudante de Pedagogia, considera O Segredo pleno de conhecimentos transcendentais de milênios. "O DVD e os escritos falam exatamente o que o budismo e a gnose pregam. É possível atingir todos aqueles objetivos. Eu já aplicava essas idéias em minha vida, quando passei a me consultar com um monge budista. A importância de perder contato com hábitos antigos, de que fala o livro, mudança de paradigmas, passam pelo energético, sim".

Entusiasmadíssimo com o contato que teve com O Segredo, o publicitário e proprietário de uma empresa de comunicação visual em Franca diz que já viu o DVD cinco vezes. "Não posso dizer que mudou minha vida, mas é quase isso. É como se estivessem dizendo aquilo tudo para mim. Duas frases ali bateram forte em mim: 'aquilo em que você resiste persiste' e 'você é hoje o que você pensou ontem'. Olhei para minhas experiências passadas e vi que as coisas caminham exatamente assim. Não devemos sofrer e remoer por coisas velhas, que já passaram e não têm solução.

Gosto do trecho em que o filme diz que seu dia correrá de acordo com a forma que você se levantou e o encarou. Costumava acordar mal-humorado por ter de me levantar cedo. Já mudei essa atitude e venho sentindo ótimos resultados. E também da idéia de que devemos substituir as negações por afirmações. Como publicitário, proponho palavras bonitas, positivas, de alto-astral, que possam atrair coisas boas. Tenho emprestado esse DVD para vários amigos, como naquele filme A Corrente do Bem", conta Eduardo. Pelo sim, pelo não, talvez não custe tentar a mentalização positiva proposta. Ou, sim, algo em torno de R$ 30, que é o preço do livro.

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